segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O Anjo e o Telescópio

Era um anjo, apenas um anjo. Um anjo que tinha que velar por toda uma cidade, mas apenas um anjo.
Abria as asas e voava, revoava, pousava, voava, revoava. Apenas um anjo. Chorou algumas vezes, homens são assim mesmo, as vezes nos fazem chorar, as vezes é triste, muito triste ser anjo, as vezes choramos. Os anjos choram.
Mas tinha asas, e isso é o que importava, asas.
Com elas subia tão alto, que nem o telescópio mais potente poderia enxerga-lo, isso se telescópios pudessem enxergar anjos, não podem, mas se pudessem, nem o mais potente deles conseguiria enxerga-lo, porque tinha asas e voava tão alto...
Homens precisam ser velados para não fazerem besteiras, mas fazem mesmo assim, mas se não fossem, fariam ainda mais, além das guerras, além do preconceito, além das dores, além das destruições, além das maldades, além da indiferença, além da fome, além da prisão, além da tortura, além... fariam mais besteiras, homens precisam ser velados. O anjo velava.
E voava pra além do telescópio potente...
Um dia voou tão alto, mas tão alto, bem mais alto, muito mais alto e não voltou mais.
Agora não temos mais um anjo pra velar por nós.
Estamos sós.


( Luiz wood )

domingo, 28 de setembro de 2008

Distraído

Quando você voltou, estava distraído, desprevenido e você se aportou.
Foi num segundo e eu já não era mais meu, bastou um segundo e tudo o que eu tinha planejado te dizer emudeceu. Estava distraído.
Pensei em te xingar, te mal-dizer, gritar em você que não mais te queria, rir na sua cara, e bastou um segundo, te recebi. Estava distraído.
Quis nunca mais te ver, olhar pra você, falar com você, pensar em você, e bastou um segundo, falei, olhei e vi. Estava distraído.
Agora estou aqui, eu estou aqui. Parecemos dois loucos e estamos aqui.
Como odeio você, como te amo.
Aquele beijo que você pousou em mim me fez estar aqui. Não queria mais te contar das coisas, não queria mais ler pra você, não queria mais rir com você, não queria mais que nossas janelas se abrissem, mas bastou um segundo, estou aqui. Distraído
Eu estou aqui e você também.
Distraídos.


( Luiz wood )

Alma

Me diz alma,
porque assim me inquieta,
porque me desperta
e quase me desespera?
Me diz alma,
onde estive e fui,
se nunca encontrei
nem à mim, nem aonde vou?
Me diz alma,
porque canto e espanto,
se a sina me diz leve,
e a vida me pesa?
Me diz alma,
porque o rio inunda,
se as lágrimas secam,
sempre que volta do mar?
Me diz alma,
pra onde vou?


( Luiz wood )

sábado, 27 de setembro de 2008

Palavras ( que me assombram )

Que palavras são essas que me assombram?
que me cercam nas esquinas e não me largam,
que me apedrejam por pecar amores,
que me deixam nu, ao sol?
Que palavras são essas que me assombram?
dos vales às montanhas, me inundam,
nos campos e prados, me fazem liberto,
cavalgam em mim, donas de mim?
Que palavras são essas que me assombram?
que me gritam poemas n'alma,
que me fazem rimas nas minhas sombras,
que me caminham vidas e sortes?
Que palavras são essas que me assombram?
e me fazem assim...?



( Luiz wood )

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Será que o tempo ?


Será que o tempo que tenho,
me basta pra poder te ter?,
que as estradas à percorrer serão lindas ?,
que os carros confundem-se com anjos?,
aviões terão asas?,
e você me percorrerá nu?,
me amas talvez?,
ou a ilusão é minha e não tua?,
que o tempo é exíguo?,
os dias serão curtos, ou a noite é longe?,
que a pele é macia?, o olhar tão duro?,
grito será ouvido ou pra você sou surdo?,
que ciganas não lêem mais as sortes ou o azar é maldito?,
e as cigarras cantam sem voz?,
que o mar se encantará?,
como a minha voz!



( Luiz wood )

Mar de Você


Amar você,
é bailar no vazio,
mergulhar no escuro,
desfolhar pétalas,
morrer de cansaço,
viver de esforço.
Amar você,
é dizer algo,
é contar um segredo,
sussurrar um desejo,
cantar folguedos.
Amar você,
é calar profundo,
acalmar o mundo,
aportar navios,
suportar ventos frios.
Amar você,
é ser mar de você.


( Luiz wood )

Paz

Recebe minhas armas,
enxuga meu suor,
limpa-me o rosto,
declara a sua paz,
na minha guerra.


( Luiz wood )

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Correr

Corro,
Morro,
Subo,
Aconteço,
Deixo,
Faço,
Falo,
Tropeço,
Calo,
Vivo,
Sonho,
Canto,
Paro,
Chega,
Cansei.
Não amo mais.


( Luiz wood )

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Vida

Vida,
se você não me bastasse,
me restaria a morte,
se você não me trouxesse dor,
seria a minha cura,
se você não me suprisse,
seria a falta que sinto,
se não me traduzisse,
me deixaria só,
se não me dissesse,
me cantaria,
se não me fosse tão minha,
seria teu.



( Luiz wood )

Segredo Nosso

O que tenho aqui é segredo,
na palma da mão,
no bolso do casaco;
O que tenho aqui é segredo,
chaveado sete vezes,
jogado no embornal;
O que tenho aqui é segredo,
falado nas janelas,
exposto no jornal;
O que tenho aqui é segredo,
de desejo declarado,
de amor juramentado.



( Luiz wood )

Ouvir Borboletas

Ouvi borboletas no piano,
música nos seu olhos,
arfar no peito.
Ouvi mar no seu olhar,
sombras no quarto,
e rezas no seu altar.
Ouvi voz no aço frio,
dor na saudade,
deserto na alma.
Ouvi flores no jardim,
chuva no pomar,
cantigas de ninar.
Ouvi meu nome,
gritei o seu,
e borboletas no piano.



( Luiz wood )

Portas

Teria que ser assim a minha sina,
repleta de portas e batentes,
escassa de amores e de dentes,
lúdica de estradas e brilhos,
vazia de silêncio e muda.
Teria que ser assim a minha sina,
trovoada de nuvens e raios,
habitada de pedras e tropeços,
fraca de vontades e ventos
farta de sonhos e desdéns.
Teria que ser assim a minha sina,
repleta de portas...
que me levam a você.
Minha sina.



( Luiz wood )

domingo, 21 de setembro de 2008

Iguais

Somos iguais,
eu e você.
Olhamos a mesma rua,
e nunca sabemos por onde ir.
Pensamos o mesmos atos,
e nunca temos a exata intenção.
Somos iguais,
eu e você.
Em cada grito preso,
sou igual a você.
Em cada desejo solto,
és igual a mim.
Somos iguais,
eu e você.
Em cada ferida ardida,
caminhamos.
Em cada deserto árido,
paramos.
Somos iguais,
eu e você.
Em todos os pesadelos,
choramos.
Em cada sonho,
rimos.
Eu e você,
somos iguais.


( Luiz wood )

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Olhos do Céu

Divertido olhar pro céu,
brincar de criança e rir,
ver o que se quer, ser.
Ser, ver , ter, olhos no céu.
Vermelha, azul, amarela,
olhando o vento, amando.
Brincando de ver,
Olhos do céu.
Olhando o vento, amando,
o vento,
com olhos no céu.



( Luiz wood )

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Caminho Trilhado

O caminho era tortuoso, mas leve.
Caminho percorrido tantas vezes, caminho trilhado a palmo. Conhecido, dedilhado. Sabia cada curva, cada perfume, cada saliência. O simples contato dos pés, das mãos, lhe dizia exatamente onde estava, com um senso de radar, de morcego, de cego...
Poderia percorrê-lo de olhos fechados, abertos, distraído, esperto. Conhecia o caminho mais do que conhecia a própria vida, conhecia à fundo, profundo, profundamente.
Como um sábio que lê, ele lia o caminho em suas minúcias... adivinhava-o antes mesmo de estar nele... antes mesmo de pisar o terreno... conhecia como conhecia a sua própria vida.
Sabia os caminhos. Se fosse mar, teria cartas. Se fosse mapa, seria país, se fosse céu, astronauta. Mas era caminho trilhado.
Era corpo, trilhado.



( Luiz wood )

Ranhuras

Eu estou nu.
Seus dedos, a ponta de seus dedos percorrem meu corpo. Desenham uma a uma cada cicatriz, cada ranhura, cada marca, cada imperfeição cinquentenária, cada experiência cármica, cada vida passada. Procuram minhas vivências, minhas dores, meus amores, minhas dores de amores.

Eu estou nu.
Você me diz amor. E eu choro, pois nem imaginava que alguém ainda fosse me amar, pois tenho cicatrizes e ranhuras. Mágoas e raivas. Mas você me diz amor e seus dedos percorrem. Quis me esconder no escuro e você acendeu todas as luzes. Quis me justificar e você retrucou. Quis me refugiar no menino e você me teve Homem. Me quis meu e você me teve seu.

Eu estou nu.
Você, me diz Amor.


( Luiz wood )

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Sextante

Seus olhos percorriam as ondas com experiência de um homem do mar, as lágrimas correram porque as ondas lembraram os carinhos dela, a experiência era de homem do mar, não de amante, o amante não tinha nenhuma sensibilidade nem experiência, o amante não tinha nada, nem ela. Pelo sextante seus olhos se estendiam e viam o mar horizontal, o sol vertical, mas não viam o sorriso dela, branco dental, gosto de menta. Como afogar nessa imensidão de águas o que lhe vinha no peito, nos olhos, na boca, nas mãos, no gosto? de dentifrício... de menta? O vento soprou e inchou as velas, lembraram o coração inflado de quando a conheceu... cheio, barulhento, gritento, violento, amoroso... frágil. Mudava o rumo a cada nova lufada, quem sabe pra onde? Pra China. Pro Cabo da Boa Esperança. Austrália. Suez. Sua Boca. A minha. Cordas em mãos hábeis, cabelos nas inábeis, timão nas hábeis, seios nas inábeis. O mar sem-fim, curto demais pra fugir dela. O sol na cara, os olhos nas ondas. Ela no pensamento. No mar sem fim.


( Luiz wood )

domingo, 7 de setembro de 2008

O que veio do céu

Todos olharam e viram, a noite iluminou, os olhos não acreditaram, queixos caíram, juntos com a chuva de asteróides... e a noite se iluminou. Profetas se prepararam para o fim, astrônomos deliraram, amantes se apressaram, governos se armaram, e as crianças desejaram, fizeram pedidos... e a noite se iluminou, como dia, mas de vermelho. Os asteróides caíram junto com os queixos que olharam para cima. O mar se levantou furioso em marés arranha-céus, torres caíram, vacas mugiram o leite coalhado, cães uivaram e se calaram, não havia uivos que falassem o suficiente, os cães se calaram. Eu me encolhi feito um frio de casacos, pus as mãos nos bolsos e caminhei apressado enquanto caíam os asteróides, feito os queixos que olharam pra cima, dois quarteirões à esquerda, próxima rua a esquerda de novo, mais alguns passos e o numero 114, a sua casa... nem vi o fim do mundo, dormi com você.





( Luiz wood )

Piano



Lá em cima do piano tem um copo de veneno, quem bebeu morreu... o amor me desceu a garganta como o veneno do copo em cima do piano... um amor infantil, que veio e nunca pediu pra ficar, mas ficou, morri porque bebi, e você se foi, nem olhou pra trás, nem me disse quando voltava, se voltava, porque voltava, porque não voltava, se foi... e eu fiquei e não podia ter ficado aqui... a sós na sala, com o piano, com o copo, com o veneno, sem você. E eu bebi. E você se foi, me deixou sozinho. Você não olhou pra mim, não me ouviu, não me leu, rasgou meus versos, não leu meu poema, riu deles... nem ligou. Fiquei sem futuro, me levou o passado... e o presente ficou dentro do copo, feito veneno. Pra eu beber, bebi, morri. Agora me deixe em paz, morto, em paz...



( Luiz wood )