sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Quintal

No meu quintal,
recolhido atrás da casa,
tem pedra, tem grama,
tartaruga tímida e pomar,
tem cerca mal ajambrada,
tem escondido o teu olhar.

No meu quintal,
bem ali, no portão de entrada,
tem a roseira espinhada,
caracóis e formigas atarefadas,
algumas margaridas desfolhadas,
de tanto bem ou mal-me-querer.

No meu quintal,
escondido no porão,
tem cogumelos aflitos,
restos de vida, tem escuridão,
e porque não tem seu sorriso,
... é repleto de solidão.


( Luiz wood )

domingo, 26 de outubro de 2008

Canções


Se meu coração tivesse que bailar,
dançaria um tango e suas dores mortais.
Se tivesse que cantar,
soltaria a voz em um rock gutural.
Se tivesse que partilhar,
seria numa roda de samba, alegre.
Se fosse chorar,
desfiaria um Blues e cor de alma.
Mas como morro,
canto fado e sinto dores.
As dores de cantar só.

( Luiz wood )

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Suor

Suor
Banhado,
lanhado, derrotado,
suado.
Sereno,
suave, conquistado,
suado.
Poderoso,
imposto, desdenhoso,
suado.

( Luiz wood )

Tensão

Quando os prédios caem
Os fios se jogam
E a rua morre
Exausta...
De tanta tensão.



( Luiz wood )

domingo, 5 de outubro de 2008

Querer

Gostaria de ter o voo alto,
de ter a canção da voz,
a força que vem do mar,
o brilho dos astros,
a sensibilidade da rocha,
a delicadeza da areia,
o arranhar de espinhos,
as paredes dos fortes.
Gostaria de ter canção,
de ter pura melodia,
de ser a onda que alisa,
a brisa que alivia,
o vinho que inebria e sacia,
a cachaça que extasia,
de ter o estar por aqui,
de ser a toada que tange gado,
o caminho que me leva a ti.
Gostaria de ser poeta,
e este te dou,
porque sendo assim,
nada mais quero ser,
só seu.


( Luiz wood )

Poema Meu

Meu poema não tem métrica,
não tem rima, nem canção.
Meu poema não tem nada,
só a vontade do coração.
Meu poema não tem nem palavras,
nem vírgulas, nem conjugações.
Meu poema não fala,
meu poema grita de emoção.
Meu poema não tem estrofes,
nem paroxítonas, muito menos vírgulas,
Meu poema não chora,
meu poema morre, de amor.




( Luiz wood )

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Estou Inteiro

Minha pele está solta...
no vento da inconstância,
no mal dizer de línguas,
na saudade escarnecida.
Minha vida está derivada,
na ilha desesperada,
na boca amordaçada,
no silêncio exato.
Meus olhos estão fixos,
no poente rompante,
no negrume dos seus,
na cegueira titubeante.
Minhas mãos estão ausentes,
em toalhas nos cantos,
nas roupas amassadas,
no seu corpo suado.
Meu coração está deserto,
nas armadilhas inúteis,
nos caminhos vagos,
nos outonos frios.
Minha alma está desarmada,
nas esquinas onde chove,
nas cinzas de quarta-feiras,
nos remorsos calados.


( Luiz wood )

Coração de Poeta

Meu coração está farto,
de poesias,
de armadilhas,
de promessas,
de desejos,
de esperanças,
não concretizadas.
Meu coração está farto,
da largura,
da carne,
do feriado,
do carnaval,
de folia,
desesperada.
Meu coração está farto,
de rimar,
de te gritar,
de ouvidos moucos,
de tolices,
de gaguejar,
de praguejar,
e ninguém ouvir.
Meu coração está suicída,
como convém a um poeta.

( Luiz wood )